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Assim a decis o de avan ar sobre Lima deve
Assim, IDH-C35 decisão de avançar sobre Lima deve ser entendida antes como uma “fuga para frente” do que como desdobramento de um crescimento orgânico. Mas em seu momento, havia um genuíno receio em relação ao poder insurgente, já que a repercussão das ações senderistas na capital era amplificada. E o poder de fogo da organização parecia crescer: o número de atentados entre 1988 e 1989 quase triplicou em relação a 1981 e 1982. Mais assustador do ponto de vista do Estado, 47% dos atentados e ataques perpetrados pela organização entre abril de 1989 e dezembro de 1992 realizaram‐se na capital, totalizando 907 ações. No começo dos anos 1990, Lima aparecia como uma cidade sitiada. Neste momento, 32% do território peruano e 49% da população se encontrava sob mando militar.
Foi neste contexto que Izquierda Unida se desfez e realizaram‐se as eleições vencidas por Fujimori. Embora os testemunhos indiquem que a condenação a Sendero era unânime na iu, também há um reconhecimento generalizado de que esta insurgência danou irreparavelmente o esforço político em curso, porque além de dificultar o entendimento interno, matou líderes e militantes. E no longo prazo, estigmatizou a esquerda a um ponto que ainda não se recobrou, como reconhece o ex‐senador Rolando Ames: “Sendero empujó a la opinión pública contra el discurso y la imagen de cualquier izquierda, de toda izquierda, o centro izquierda. Ellos hablaban también de Mariátegui, de marxismo, leninismo, maoísmo, etcetera ‐ y hacían terrorismo!”.
FUJIMORI
As conexões que Naomi Klein estabelece entre “doutrina de choque” e neoliberalismo, utilizando como caso paradigmático o Chile sob Pinochet, encontram notável ressonância no Peru comandado por Alberto Fujimori (1990‐2000). No caso peruano, o clima de desordem gerado pela degeneração do governo aprista e acentuado pela destruição senderista, criou o ambiente propício à combinação entre ditadura e neoliberalismo que marcou o regime. Se a conjunção entre alanismo e senderismo colocou em xeque a ascensão da esquerda peruana, a theory ditadura fujimorista floresceu neste contexto, revertendo o descontrole econômico, a violência e a debilidade da esquerda a seu favor. O conservadorismo prevalente no Peru está relacionado à sensação ainda vigente de que, a despeito dos meios empregados, o “chino” colocou ordem na casa.
Para aquilatar a devastação causada por esta experiência é preciso lembrar, em primeiro lugar, que Fujimori elegeu‐se em oposição a candidatura de Vargas Llosa, que assumiu como plataforma o ajuste neoliberal. Neófito político que se projetou no mês final da campanha cultivando uma imagem de honradez, tecnologia e trabalho, três características associadas ao japonês, Fujimori teve como slogan “Vote no al shock!”. Servindo‐se do profundo desprestígio dos políticos convencionais e da desmoralização da esquerda para alimentar um discurso antipartidário, o candidato de “Cambio 90” teve o apoio do aparelho aprista para se eleger, uma vez que Vargas Llosa se tornara arquinimigo de García, além de se beneficiar do rechaço popular à arrogância criolla personificada em seu rival, que há muito sequer vivia no país.
Uma vez eleito, Fujimori costurou uma aliança com os militares por meio da sinistra figura de Vladimir Montesinos, que se tornaria o homem forte do regime: “Montesinos was Mr. Fix‐it, not only for Fujimori, but also for de U.S. government”. Há indícios convincentes de que a corporação tramava tomar o poder e implementar um projeto de reordenamento nacional prevendo décadas de duração, que teria sido ajustado em função da disposição do novo presidente em se tornar seu cúmplice. A consumação desta aproximação exigiu um processo de depuração dos altos mandos militares, em que o governo destituiu inimigos e promoveu oficiais próximos a Montesinos. Em linhas gerais, a divisão do trabalho estabelecida facultou poderes ditatoriais ao presidente, enquanto as Forças Armadas tiveram carta branca para enfrentar a insurgência, e ambos chafurdaram em corrupção.